Unidades temáticas da Educação Física no currículo do Ensino Fundamental
OBJETIVOS DO MÓDULO
Módulo 2
Vamos compreender as competências e habilidades específicas da Educação Física nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e como podem ser desenvolvidas nas unidades temáticas de jogos e brincadeiras, esportes, ginásticas, lutas
e práticas corporais de aventura.
Aqui vamos compreender a Educação Física no Ensino Fundamental como componente curricular que tematiza as práticas corporais na perspectiva cultural.
Também vamos descrever as unidades temáticas sugeridas na BNCC e sua distribuição ao longo do Ensino Fundamental.
Além disso vamos refletir sobre como incorporar as dimensões de conhecimento das práticas corporais.
Na BNCC do Ensino Fundamental a Educação Física é compreendida como componente curricular que tematiza as práticas corporais nas unidades temáticas de jogos e brincadeiras, danças, lutas, esportes e práticas corporais de aventura.
Nesse módulo, vamos discutir o que muda na prática pedagógica quando planejamos as aulas para desenvolver as competências do componente e como a BNCC propõe o desenvolvimento de habilidades em cada unidade temática, bem como as sugestões para a progressão das aprendizagens nos anos iniciais e finais.
Também discutiremos exemplos de tematização das práticas corporais a partir das 8 dimensões de conhecimento: experimentação, uso e apropriação, fruição, reflexão sobre a ação, construção de valores, análise, compreensão e protagonismo comunitário.
Aula 1
A BNCC no Ensino Fundamental
QUAIS SÃO OS PONTOS DE PARTIDA DA BNCC PARA BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL?
A presença da Educação Física no currículo escolar precisa ser pensada a partir das premissas gerais da BNCC.
Os professores de Educação Física precisam pensar suas aulas a partir do compromisso da BNCC com o desenvolvimento integral dos alunos, ou seja, os alunos precisam ter oportunidades de desenvolver as dimensões físicas, corporais, cognitivas, afetivas, sociais e culturais associadas às práticas corporais.
A BNCC inova, com uma perspectiva de Educação Integral, mostrando que componentes como a Educação Física devem ter o mesmo status no currículo escolar. Nessa concepção, as aulas de Educação Física devem mobilizar aprendizagens que integram fazer, sentir e pensar as práticas corporais.
O currículo e as aulas de Educação Física precisam ser pensados a partir de suas contribuições para o desenvolvimento das competências gerais da BNCC.
Competência é a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
Um currículo de Educação Física comprometido com o desenvolvimento de competências propõe momentos de reflexão e construção de conceitos, valores e atitudes integrados nas atividades práticas.
A seguir apresentamos alguns comentários que podem ajudar a entender o currículo de Educação Física comprometido com o desenvolvimento das competências gerais da BNCC. Esses comentários são ilustrativos e só orientam diversas possibilidades de trabalho. O importante é compreendermos como o compromisso com o desenvolvimento de competências gerais modifica o que tradicionalmente tem sido trabalhado nas aulas do componente.
Competências gerais da BNCC
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Reflexões sobre o papel da Educação Física
Na perspectiva da BNCC, professor de Educação Física passa a trabalhar com os conhecimentos historicamente construídos sobre as práticas corporais, seus sentidos e seu enquadramento nos valores democráticos. Os estudantes devem ter a oportunidade de relacionar processos históricos e de grupos culturais diversos ao desenvolvimento de práticas corporais. Por exemplo, compreender a origem do racismo tendo em vista a origem histórica da Capoeira e do Futebol no Brasil.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
Para atender ao desenvolvimento dessa competência o tratamento das práticas corporais deve incorporar processos de investigação, reflexão e solução de problemas e não mais a mera reprodução de técnicas e táticas de algumas modalidades esportivas coletivas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
As aulas de Educação Física passam a contemplar maior diversidade de práticas corporais locais e mundiais, ampliando o repertório cultural dos estudantes.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e cientifica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
As aulas de Educação Física enfocam as diferentes possibilidades de utilização da linguagem corporal, valorizando a dimensão intrínseca do fazer corporal na formação dos estudantes.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
Cada vez mais as crianças e adolescentes acessam e produzem conhecimentos sobre as práticas corporais por meio de tecnologias digitais, aplicativos, jogos, vídeos tutoriais, textos e imagens. As aulas de Educação Física podem contribuir com o desenvolvimento de competências para usar as tecnologias digitais a favor de modos de vida mais ativos, questionar o crescimento do sedentarismo e da obesidade pelo excesso de tempo dedicado ao uso de tecnologias digitais, bem como o uso da linguagem digital para a ampliação de conhecimentos sobre as práticas corporais.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
O contato com diferentes práticas corporais nas aulas de Educação Física permite que os e as estudantes possam escolher formas de participar dessas práticas ao longo da vida, adotando valores da sociedade democrática e de vida ativa.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
O tratamento das práticas corporais nas aulas de Educação Física deve envolver olhares de diferentes pontos de vista, culturas, grupos, questões éticas, ambientais e o respeito a diferentes culturas e seus modos próprios de criar e vivenciar práticas corporais.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
Olhar para si mesmo, compreendendo o próprio corpo e seu envolvimento em práticas corporais, bem como os sentimentos decorrentes das práticas deve ser objeto das aulas de Educação Física.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Promover valores, exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação em práticas corporais pode favorecer o desenvolvimento dessa competência, bem como discutir e analisar criticamente com os e as alunas a presença de preconceitos nas práticas corporais, desde que, durante as atividades o professor de educação física promova diálogos construtivos sobre os sentidos atribuídos às práticas.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Todo o trabalho com valores nas práticas corporais deve contribuir para o desenvolvimento dessa competência, o que é facilitado quando o professor promove atividades de colaboração e reflexão crítica.
Na BNCC estão previstas 10 competências específicas para o componente Educação Física:
Competências específicas da Educação Física
Questões de problematização
1. Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual.
Que grupos culturais criaram essa prática? Em que sentido ela se diferencia de práticas do contexto comunitário e regional?
Onde ela é realizada? Há diferentes possibilidades de acesso a essa prática em função de marcadores sociais como gênero, etnia e condição econômica.
Quais eram os objetivos dos grupos culturais que criaram a prática?
Com a prática se transformou e quais fatores influenciaram tais mudanças?
2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo.
Como aprendo os movimentos, regras, materiais e estratégias dessa prática? Praticamos essa prática a partir de valores democráticos?
Como conseguimos realizar essa prática adaptando materiais, espaços, regras aos nossos interesses e aos valores de respeito, diversidade e inclusão de todos e todas?
Como vivenciamos essa prática incluindo pessoas com deficiência? Colegas com alguma dificuldade?
Como aprendemos uns com os outros novas práticas? Como podemos propagar esses conhecimentos para a comunidade?
3. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.
Como posso cuidar da saúde em práticas corporais que eu goste? Quais as possibilidades reais de praticar atividades corporais em função das condições de vida na cidade? Que fatores sociais, culturais e econômicos regulam o envolvimento de diferentes grupos culturais em práticas corporais para a saúde?
Como posso cuidar do meu corpo nas atividades cotidianas, analisando criticamente as condições de trabalho e lazer da cidade?
Que cuidados tenho que tomar com a prática de atividades corporais? Que críticas faço aos padrões de beleza e saúde associados às práticas corporais?
4. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas.
Como observo e questiono padrões de beleza presentes na mídia?
Como conheço meu corpo e me posiciono criticamente para cuidar dele sem aderir a padrões de beleza socialmente construídos?
Como percebo meu corpo e reconheço sua beleza?
Posso acreditar em tudo que a mídia divulga sobre as práticas corporais? Como posso divulgar novos modos de compreender o corpo e a beleza?
5. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes.
Como identifico preconceitos em práticas corporais? Como modifico atitudes preconceituosas nas práticas corporais da minha comunidade?
Tenho consciências sobre como os preconceitos aparecem de formas sutis em modos de falar e agir em práticas corporais?
Sem perceber eu discrimino colegas nas práticas corporais? Como posso mudar isso?
6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam.
Respeito meus colegas quando participo de práticas corporais? Como me posiciono frente a colegas que adotam atitudes discriminatórias e ou preconceituosas em práticas corporais?
Sou colaborativo nas práticas corporais?
Respeito os diferentes sentidos que pessoas e grupos culturais dão às práticas da cultura corporal?
7. Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos.
Respeito práticas corporais de outras culturas?
Me interesso por conhecer práticas corporais de outras culturas?
O que práticas corporais de outras culturas agregam à minha experiência corporal?
8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde.
Como posso realizar práticas corporais no meu lazer?
De que práticas corporais eu gosto e como posso conhecer pessoas, ampliar laços em práticas corporais? Como posso estimular a comunidade a se envolver em práticas corporais?
9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário.
Reconheço as práticas corporais de lazer como direito de todos? Conheço e defendo o direito de acesso ao esporte e ao lazer garantidos nos marcos legais brasileiros?
Incentivo outras pessoas da comunidade a participar de práticas corporais?
Posso agir em instâncias de representação social e participação democrática para reivindicar o direito de acesso às práticas corporais? Como faço isso?
10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo.
Como posso criar novas práticas corporais a partir das que eu conheço?
Que aspectos interessantes eu identifico nas práticas corporais que aprecio?
Como trabalho em grupo para colaborar com os colegas em práticas corporais?
Cada uma dessas competências se materializa no desenvolvimento de habilidades previstas para o Ensino Fundamental.
Observando o conjunto de Competências específicas da Educação Física percebemos que os professores devem criar condições para que os alunos tenham oportunidade de aproveitar brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura com o objetivo de apoia-los a compreender suas origens culturais, os modos de aprender e ensinar essas práticas, a presença de valores, condutas sociais, emoções, modos de viver e perceber o mundo, padrões de beleza, relações entre cultura corporal, mídia e consumo, a presença e questionamento de preconceitos e estereótipos nas práticas, bem como as marcas de identidade presentes em cada prática. A ideia é que os alunos construam autonomia para usufruir, criar e recriar essas práticas com posturas éticas e responsáveis para eles e para os demais.
Segundo a BNCC, “A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre
inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo”
A concepção da linguagem corporal no âmbito da cultura significa dar uma nova visão às práticas corporais, acrescentando ao percurso formativo das aulas de Educação Física a experimentação junto com a reflexão e produção de novos sentidos para as práticas.
Essa visão é diferente das que visam exclusivamente o desenvolvimento motor ou psicomotor ou que entendem a Educação Física apenas como forma de descanso e ou gasto de energia dos alunos. A visão cultural permite unir as práticas corporais e o trabalho com valores, atitudes, autoconhecimento, reflexão crítica e não o fazer por fazer.
No caso das aulas de Educação Física, não significa que irão perder a especificidade do componente e torna-lo somente um caminho para outras aprendizagens, mas de compreender as práticas corporais como objetos, que por sua própria natureza, integram-se com os processos de conhecimento dos alunos nas demais linguagens e áreas do conhecimento.
SEU PROGRESSO NO CURSO