Ampliando as aprendizagens da BNCC
OBJETIVOS DO MÓDULO
Módulo 3
Que tal ir além da área de linguagens?
Aqui você vai compreender como a Educação Física compõe a área de linguagens.
Também irá compreender sobre os temas integradores e contemporâneos que possibilitam a transversalidade no currículo.
Aula 1
A BNCC e a Educação Física na área de linguagens
Uma das principais propostas do desenvolvimento por competências consiste em pensar no ensino de modo integrado. Por isso, organiza-se o ensino em áreas para facilitar a comunicação entre os conhecimentos e aprendizagens dos componentes curriculares, que é o que vemos na BNCC.
A caracterização da Educação Física como componente curricular que integra a área de linguagens se estabeleceu inicialmente nos Parâmetros Curriculares Nacionais, mas, na ocasião, o ensino fundamental ainda não era constituído por áreas de conhecimento, só o ensino médio, como podemos ver, por exemplo, na organização do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).
As áreas do conhecimento adotadas pela BNCC para o ensino fundamental são:
Acreditamos que as características do nosso objeto, que é o movimentar-se do ser humano, possibilita interações com todos os componentes curriculares, podendo ser, inclusive, ponto de convergência entre eles.
Se analisarmos algumas habilidades da BNCC, observamos claramente essa possibilidade interdisciplinar que extrapola a área de linguagens. Interessante notar que essa característica foi considerada na elaboração de currículos de outros países, como a Austrália, o Canadá, a Argentina, a Espanha, a Inglaterra, entre outros, que consideram a Educação Física uma área de conhecimento específica, assim como é a matemática.
Propomos então, que se tenha essa visão. A Educação Física interagindo com todos os componentes curriculares, independente da área à qual pertencem.
Como a BNCC propõe uma configuração que situa a Educação Física na área de linguagens, iremos, neste módulo, discutir como essa relação se estabelece. Além disso, analisaremos juntos os temas integradores e contemporâneos sugeridos como temas que possibilitam transversalidade no currículo, as competências específicas da Educação Física e as competências gerais da BNCC.
O texto introdutório da BNCC para a área de linguagens descreve:
As atividades humanas realizam-se nas práticas sociais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora, como Libras e escrita), corporal, visual, sonora e, contemporaneamente, digital. Por meio dessas práticas, as pessoas interagem consigo mesmas e com os outros, constituindo-se como sujeitos sociais. Nessas interações, estão imbricados conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos (BNCC, pág. 63)
A seguir, são definidos os componentes curriculares que constituem a área de linguagens (língua portuguesa, artes, Educação Física e língua inglesa) e qual o objetivo da área:
A finalidade é possibilitar aos estudantes participar de práticas de linguagem diversificadas, que lhes permitam ampliar suas capacidades expressivas em manifestações artísticas, corporais e linguísticas, como também seus conhecimentos sobre essas linguagens, em continuidade às experiências vividas na Educação Infantil (BNCC, pág. 63)
Os estudantes devem se apropriar das especificidades de cada componente curricular da área chamada linguagem sem perder a noção do todo no qual estão inseridos. Nos anos iniciais os componentes devem tematizar diversas práticas, considerando especialmente as relacionadas às culturas infantis tradicionais e contemporâneas
Propomos a seguir um exemplo sobre como a Educação Física se integra à área de linguagens a partir do que a BNCC propõe para os anos iniciais do ensino fundamental.
A Base Nacional considera que nos dois anos iniciais do ensino fundamental o processo de alfabetização deve ser o foco da ação pedagógica.
Mas, como a Educação Física poderia contribuir para a alfabetização sem perder a sua especificidade?
Para responder a essa questão, iremos recorrer aos documentos que referenciaram essa prioridade dada à BNCC.
O Plano Nacional de Educação, PNE, aprovado em 2014, propõe, entre outros temas, uma ação conjunta entre o governo federal, estados e municípios, que garanta que as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade. Essa ação chama-se Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – o PNAIC.
Um dos elementos estruturantes do PNAIC descreve que “não basta dominar o Sistema de Escrita Alfabética, mas a criança deve desenvolver a habilidade de fazer uso desse sistema em diversas situações comunicativas”. O processo de alfabetização deve ocorrer num ambiente que proporcione sentido e significado que auxiliem na compreensão do mundo, ou seja, por meio da interação do aluno com o meio, com os outros e com o mundo.
Outro trecho do documento do PNAIC descreve:
Não se lê e se escreve no vazio. É preciso entender as práticas culturais, ser capaz de construir conhecimentos e participar de modo ativo dos diferentes espaços de interlocução, defendendo princípios e valores. Desde cedo, o acesso aos diferentes gêneros discursivos contribui para que os estudantes possam se perceber como sujeitos políticos possuidores de cultura, e, como tais, sejam agentes de intervenção social, responsáveis pelas suas ações e dos que compõe seus grupos de referência. Desse modo, o ensino de leitura, da escrita e da oralidade precisa ser realizado de modo integrado aos diferentes componentes curriculares: Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, História, Geografia, Matemática, Ciências (BRASIL, 2012, p. 26,)
Aqui cabe uma reflexão importante sobre a atuação do professor de Educação Física: não se trata de assumir a responsabilidade de ensinar os alunos a ler e escrever e nem de abdicar dos conteúdos da disciplina para dar suporte a outros componentes, e sim de observar como, dentro do desenvolvimento das aulas, a disciplina compõe ou se relaciona com a área de linguagens.
Propomos, para fazer essa relação, analisar uma das habilidades da BNCC para o primeiro e segundo anos do ensino fundamental:
(EF12EF02) Explicar, por meio de múltiplas linguagens (corporal, visual, oral e escrita), as brincadeiras e os jogos populares do contexto comunitário e regional, reconhecendo e valorizando a importância desses jogos e brincadeiras para suas culturas de origem.
Nas aulas de Educação Física ocorrem, constantemente, conversas e discussões acerca do que foi realizado na aula. Essas conversas e discussões podem ser sobre as instruções para se realizar uma prática, o relato dos alunos sobre o que sentiram ao realizar uma prática, quais as dificuldades que encontraram, situações de desavença, sugestões de organização da prática de modos diferentes, entre outras.
Nesse processo, os alunos devem ouvir com atenção as orientações do professor, procurar ouvir e compreender os colegas, elaborar perguntas sobre eventuais dúvidas ou procurar explicar claramente as suas ideias para que todos compreendam.
Ainda que os alunos não dominem a leitura e a escrita, essas formas de comunicação se inserem no âmbito da oralidade e representam um importante recurso de alfabetização.
Observe que não é preciso abrir mão dos conteúdos da Educação Física e sim, novamente enfatizando, perceber como ela se relaciona à área de linguagens.
O mesmo procedimento pode ser feito para os demais anos do ensino fundamental. Apesar de considerarmos que a Educação Física possui uma característica própria e que deveria ter a sua área de conhecimento própria, o fato de ter sido inserida na área de linguagens possibilita que se dialogue com outros componentes e constitui uma oportunidade para que eles compreendam melhor a Educação Física.
Muitas vezes, a aula de Educação Física não é acompanhada pelos professores regentes, que utilizam esse momento para outros afazeres. Em muitas escolas a própria coordenação pedagógica utiliza as aulas dos professores específicos para se reunir com os professores regentes.
Numa organização por áreas de conhecimento, o trabalho integrado entre os componentes será uma oportunidade para que haja interlocução entre os professores na articulação de aprendizagens considerando as linguagens.
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