A Educação Física e o conhecimento escolar
OBJETIVOS DO MÓDULO
Módulo 1
Vamos discutir sobre o objeto de estudo da educação física e a BNCC?
Refletir sobre como o conhecimento se manifesta nas aulas de Educação Física a partir do seu objeto de estudo.
Compreender que o saber fazer é um conhecimento e as dificuldades que a Educação Física enfrenta na escola devido a natureza desse conhecimento.
Perceber que o trabalho por competências previsto na BNCC valoriza o conhecimento desenvolvido nas aulas de Educação Física.
Aula 1
O que a Educação Física ensina?
O que a Educação Física ensina ?
Qual o seu objeto de estudo?
Por que nem todos valorizam a Educação Física na escola?
Os outros professores, os gestores, os pais e os alunos sabem o que a Educação Física ensina na escola?
Quando conversamos com professores de Educação Física sobre essas questões, temos respostas de diferentes naturezas: alguns têm claro o que a Educação Física ensina, outros nem tanto e, mesmo para aqueles que têm clareza, as respostas nem sempre são iguais.
A pouca valorização do componente na escola é recorrente nas respostas de muitos professores e, quando questionamos gestores, pais e alunos sobre o que a Educação Física ensina, as respostas em geral remetem a uma Educação Física que tiveram durante o seu período escolar ou então diferem daquilo que os professores acreditam que estão ensinando. O mesmo ocorre com os alunos, cujos relatos sobre o que a Educação Física ensina variam desde aprender algum esporte a “desprender da monotonia das aulas regradas” (Boeira, 2017).
Quando perguntamos a um gestor, coordenador ou professor de matemática ou de português sobre o que as suas disciplinas ensinam na escola, as respostas são sempre consonantes. Parece estar muito mais claro para eles sobre o que as disciplinas ensinam.
Muitos, incluindo os alunos, utilizam a fala “estudar ou aprender” português ou matemática, mas “fazer” Educação Física. Essa diferença que se nota entre “estudar” e “fazer” parece quase tirar a Educação Física da escola, local onde se “estuda”, por excelência.
Uma questão importante é saber se as pessoas não compreendem o que a Educação Física ensina ou se nós, professores, temos dificuldade em deixar isso claro.
O histórico da Educação Física no Brasil nos ajuda a refletir sobre essa questão. Desde os anos 1980, acadêmicos têm se envolvido em discussões que possibilitaram reflexões importantes sobre o papel da Educação Física na escola. Dessas discussões surgiram diferentes abordagens da Educação Física, cada uma com um enfoque próprio que, por um lado, provocaram mudanças em modelos anteriormente praticados que não atendiam mais às necessidades da educação escolar, mas, por outro lado, não levaram a um consenso sobre pontos importantes, como por exemplo:
Exemplificando
Qual seria o objeto de estudo da Educação Física na escola?
Como os conhecimentos devem ser sistematizados?
A falta de consenso nas discussões sobre a educação física influenciou também a formação dos professores. De acordo com a universidade em que estudamos, tivemos contatos com uma ou com algumas das abordagens, e cada uma delas tem visões diferenciadas da Educação Física. Mesmo dentro de uma abordagem culturalista, na qual a BNCC se baseia, não há um conceito único que satisfaça a todos.
Um ponto em comum que passa por todas as abordagens é que a Educação Física estuda sobre o movimentar-se do ser humano. Independente da abordagem, o movimento é um fenômeno presente nas aulas.
Na concepção da BNCC, a Educação Física, estuda o movimentar-se do ser humano inserido no âmbito da cultura, e esse movimentar-se inclui as práticas corporais, atividades físicas, exercício físico e todos os movimentos que realizamos em nosso dia a dia.
A questão é que o movimentar-se, objeto de estudo da Educação Física, não é de natureza igual ao objeto dos demais componentes. É importante admitir isso. Há uma diferenciação entre a Educação Física e os demais componentes do currículo escolar. Alguns autores dizem que o nosso objeto é de caráter híbrido (Betti 2018). Nosso objeto, sendo de natureza diferente, muitas vezes causa desconhecimento e estranheza por parte dos outros componentes.
Nossa sala de aula não tem cadeiras e os alunos não ficam estáticos e em silêncio.
As discussões sobre o que aprendem ocorrem de maneira dinâmica no ambiente onde todos podem se manifestar. Admitir essas características é o primeiro passo para que possamos continuar nossa reflexão. Nas aulas de Educação Física, nós não apenas refletimos sobre o objeto, mas agimos com ele. Os outros componentes não agem com o seu objeto, ou pelo menos não do modo como agimos.
Quando tentamos nos comparar de alguma forma aos outros componentes curriculares, falamos em teoria da Educação Física e prática da Educação Física. No entanto, quando tratamos o conhecimento de forma separada, apenas estamos reforçando o preconceito que a disciplina sofre na escola, que valoriza o conhecimento acadêmico em detrimento a outras formas de conhecimento (“estudar” e “fazer”, lembra?).
Exemplificando
Usando a linguagem das competências, a teoria seria o conhecimento do saber sobre alguma coisa e a prática seria o conhecimento do saber fazer. Em nossas aulas deve haver reflexão e haver ação. Não devemos tentar ser como os outros componentes curriculares, mas sim mostrar a importância que o nosso componente tem dentro da escola.
Justamente por ser diferente, a Educação Física encontra certas dificuldades na escola visto que:
1. A escola é normativa, o que implica dizer que o movimentar-se é visto como caos e desordem por parte dos outros professores e da equipe gestora. Alunos que correm no corredor, aulas de Educação Física que fazem barulho, crianças que chegam “agitadas” na sala após a aula de Educação Física, o recreio que muitas vezes é visto como caótico.
2. As pessoas veem no movimento algo simples, sem importância. Por exemplo, para uma criança que não escreve, esse é um movimento bastante complexo, mas que, uma vez incorporado, deixa de sê-lo. Portanto, quando as pessoas veem crianças movimentando-se numa quadra, têm dificuldade em compreender que o movimentar-se é algo complexo, que mesmo os movimentos mais simples exigem percepção do ambiente, julgamento, tomada de decisões, planejamento, execução e avaliação. As pessoas pensam apenas na execução. Considere o quadro abaixo em que se ilustra o que faz uma pessoa jogando tênis ao rebater uma bola:
(A) Orientação à bola: aqui o praticante age e percebe ao mesmo tempo, ao se orientar para o que é mais relevante para fazer a rebatida.
(B) Qual é o cenário? Como mudá-lo? o praticante interpreta a situação, forma um cenário em que imagina diferentes situações desde como virá a bola, até as consequências dele rebater de um jeito ou outro.
(C) O Plano de Ação: o praticante toma uma decisão sobre o que e como fazer. Isso configura um plano de ação e podemos dizer uma hipótese sobre uma dada relação entre ele, seus movimentos e as consequências sensoriais.
(D) O Fazer: agora ela ou ele realiza o que planejou, coloca em prática a sua hipótese na forma de plano de ação, antes de ser uma repetição mecânica ou movimentação automática, o praticante realiza um experimento ao rebater a bola.
(E) Avaliação: ao executar, o praticante pode avaliar a sua hipótese sobre as relações entre o cenário que imaginou, a decisão que tomou e o plano de ação que implementou com as consequências ambientais.
Os processos descritos aqui ocorrem todas as vezes que realizamos ações motoras, seja para rebater ou chutar uma bola ou para alcançar e pegar uma xícara de café.
(Conforme Manoel, E. J., 2019.)
3. O desconhecimento sobre a complexidade do movimentar-se e a sua simplificação leva, às vezes, a uma atitude preconceituosa, pois o mover-se livremente ou numa aula de Educação Física teria pouco valor formativo e pedagógico no que diz respeito ao conhecimento. A escola se vê como o lugar do pensamento e do raciocínio, e tem dificuldade de reconhecer o mover-se como uma parte que a integra. Em outras palavras, o mover-se é do corpo e o pensar, raciocinar, é da escola.
4. O professor de Educação Física tem dificuldade em explicar sobre o saber fazer como um conhecimento nas suas aulas, o que remete a um discurso de que nas aulas de Educação Física não se estuda, apenas se faz.
O trabalho por competências e o saber fazer
SEU PROGRESSO NO CURSO