Ainda assim, o privilégio dado à Ciência, em especial no Brasil, desde o século 19 (com sua notória história de proximidade com o positivismo), muitas vezes dificulta a compreensão desta distinção entre “Ciência” e Tecnologia.
É importante insistir: há laços estreitos, como dissemos no tópico anterior, entre as ciências "explicativas" dos fenômenos físicos/sociais e a ciência das intervenções (a Tecnologia). Mas não há uma hierarquia, uma importância maior de uma em relação a outra, e, sim, possibilidades de crescimento mútuo.
Figura 09 - Fonte: Pixabay
Isso é evidente na história da humanidade, desde a importância da construção do telescópio por Galileu, para que pudesse alcançar os seus famosos avanços astronômicos, passando pela dependência que a física moderna demonstrou para com os dados produzidos no acelerador de partículas, o LHC (Large Hadron Collider) - que requereu um imenso conjunto de técnicas e de técnicos. Percebe-se a frequente interdependência entre tecnologia e as demais ciências. Esta estreita relação ciências explicativas/tecnologia não dispensa a distinção de objetivo das duas.
Mas nem sempre é fácil entender que as técnicas e a Tecnologia não são "mera aplicação" da ciência.
Vamos tomar um exemplo: as técnicas agrícolas desenvolveram-se durante séculos sem a constituição de uma ciência agrária prévia (SIGAUT, 1985). Assista ao vídeo a seguir.
Sem mesmo entrar nas formações já organizadas em disciplinas, em escolas ou na academia, muitos corpos de saberes foram se sistematizando e consolidando sem ter origem na filosofia, na ciência, em conhecimento formalizado/disciplinado, na descoberta de fenômenos, mas em outras formas de construção do saber. Para compreender, assista ao vídeo abaixo.