A dimensão pessoal, isto é, a singularidade com que cada profissional atua, poderá, na verdade, ser apreciada em qualquer atividade, esteticamente ou não, como lembram Guérin et al (2001, p. 18).

“Numa metalúrgica, um operário nos disse quem ajustara sua máquina, sem tê-lo visto. (...) Ao receber um cliente, uma funcionária sabe, pelo diálogo que tem com ele, qual a recepcionista que o atendeu”.

O caso do eletricista ou do pedreiro revela ainda um aspecto moral ou ético de compromisso com sua prática, que também caracteriza a identidade do trabalhador.

Ambas dimensões dizem respeito a um “sentimento de autoafirmação” do sujeito (BARATO, 2015, p. 21), que ganha o seu reconhecimento enquanto autor da obra de seu trabalho e enquanto sujeito ativo na construção da sociedade.

Montagem com três imagens de profissionais em atividade. Um soldador, um eletricista e uma decoradora.

Figura 08 - Fonte: Freepick

Podemos associar a dimensão pessoal ao que chamaremos aqui de um “empoderamento técnico” do sujeito aprendiz, isto é, a aquisição de uma forma organizada e individual de intervir no mundo e de produzir sua existência.

A dimensão ética evocada se desdobra nos valores que a ação do trabalhador envolve, que vão desde aqueles de uma ética profissional típica de determinada categoria, passando por práticas educacionais (no âmbito da formação), até valores sociais mais gerais.

Observe mais alguns casos ilustrativos.

Um jovem ao ar livre, usa capacete amarelo, segura folhas de papel na mão esquerda e ajeita o capacete com a direita.

Figura 09 - Fonte: Freepick

“um aluno do curso de construção civil comenta que no canteiro de obras não se derruba o fruto do trabalho” (BARATO, 2015, p. 22), prática comum nos cursos de edificações, como quando se derrubam muros de tijolos para poder repetir o exercício de construção no mesmo lugar. Aqui o aluno ressalta a oposição da prática escolar ao ethos da profissão.


Outro caso é o da formadora de cabeleireiros, que indica que a preparação de tinta para coloração de cabelos deve ser feita atrás de um biombo, para evitar que a cliente “aprenda o procedimento e deixe de buscar o serviço de cabeleireiras” (BARATO, 2015, p. 22). Aqui uma questão ética se põe: a prática profissional entra em conflito com valores sociais mais amplos.

Uma jovem de avental azul escuro sobre camiseta azul clara, escova o cabelo de outra jovem que está sentada e usa uma capa de proteção branca. A jovem de avental estica o cabelo da outra com uma escova que segura com a mão direita e a esquerda segura o secador no alto direcionado para a escova.

Figura 10 - Fonte: Freepcik

Em todos os casos, há uma “vinculação entre identidade e fazer, geradora de saberes e valores significativos” (BARATO, 2015, p. 25).

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